Dólar cai e encerra 1º pregão do ano a R$ 6,16; Ibovespa recua
02/01/2025
A moeda norte-americana caiu 0,28%, cotada a R$ 6,1624. O principal índice de ações da bolsa de valores fechou em queda de 0,13%, aos 120.125 pontos. Notas de dólar.
Murad Sezer/ Reuters
O dólar fechou em queda nesta quinta-feira (2), cotado a R$ 6,16. No primeiro pregão de 2025, investidores repercutiram novos dados dos Estados Unidos e seguiram de olho no cenário fiscal brasileiro — fator que continua a pesar sobre os mercados.
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, também fechou em baixa.
Em dia de pouca movimentação por conta das festas de fim de ano, destaque para os pedidos semanais de seguro-desemprego nos EUA, cujos números vieram abaixo das expectativas.
Também ficaram no radar do mercado os últimos dados divulgados pela China, que mostram um crescimento em ritmo menor que o esperado.
No Brasil, investidores seguiram de olho no quadro fiscal, após o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo em novembro de 2024 frustrar as expectativas do mercado. O cenário é de desconfiança em relação à sustentabilidade das contas públicas.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2025. São as regras definidas pelo arcabouço fiscal, o conjunto de normas para controle das contas públicas.
Em termos simples, os receios do mercado financeiro em relação às contas públicas se refletem no dólar da seguinte forma:
Sem cortar gastos, o país tem uma perspectiva menor de controle da dívida pública;
Um país mais endividado tem uma probabilidade maior de não cumprir com seus compromissos financeiros, e se torna mais arriscado;
Um país mais arriscado só se torna atrativo se pagar juros mais altos pelos títulos;
Com países mais seguros pagando juros mais altos no exterior, o Brasil fica menos atrativo;
Se o Brasil está pouco atrativo, os investidores tiram dólares do país, enfraquecendo o real.
Diante do cenário, o dólar encerrou 2024 com uma alta de 27,35% frente ao real. Foi a maior valorização anual do dólar desde 2020, quando subiu 29,36%, no contexto da pandemia de Covid-19.
Além das contas públicas brasileiras, também contribuíram para o resultado do último ano fatores externos como conflitos internacionais, a eleição de Donald Trump nos EUA e o nível de juros norte-americanos.
O Ibovespa foi impactado pelo mesmo cenário e registrou perdas de 10,36% no acumulado do ano.
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Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar acumula alta de quase 28% em 2024
Dólar
O dólar recuou 0,28%, cotado a R$ 6,1624. Na mínima do dia, chegou a R$ 6,1515. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
queda de 0,50% na semana.
Na última segunda-feira (30), a moeda norte-americana fechou em baixa de 0,22%, cotada a R$ 6,1797.
Ibovespa
O Ibovespa recuou 0,13%, aos 120.125 pontos. Na mínima do dia, chegou aos 119.120 pontos.
Com o resultado, acumulou:
perda de 0,12% na semana.
Na sexta, o índice encerrou em alta de 0,01%, aos 120.283 pontos.
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O que está mexendo com os mercados?
Os dados mais recentes dos Estados Unidos e da China mexeram com os mercados globais neste primeiro pregão do ano.
O número de pedidos iniciais de seguro-desemprego nos EUA recuou de 220 mil na semana passada para 211 mil nesta semana. O resultado veio abaixo das expectativas, de 222 mil.
Dados relacionados ao mercado de trabalho são monitorados de perto pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) porque dão pistas sobre a atividade econômica. São, portanto, levados em conta para decisões sobre as taxas de juros no país.
Já no gigante asiático, destaque para os índices gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), indicadores que mostram o quão aquecido determinados setores da economia estão com base em decisões de gerentes de compras em empresas representativas de tais setores.
O PMI do setor industrial desacelerou para 50,5 em dezembro, contra expectativas de 51,6 e abaixo dos 51,5 de novembro. Isso indica que a indústria chinesa continua crescendo — pois qualquer valor acima de 50 mostra expansão —, mas menos que o esperado.
Para analistas da XP Investimentos, esses dados, juntos aos últimos divulgados no país, "ressaltam como será desafiador para Pequim montar uma recuperação econômica duradoura em 2025".
No Brasil, em mais um dia de agenda esvaziada, destaque para a divulgação do fluxo cambial, que ficou negativo em US$ 15,918 bilhões no acumulado de 1º de janeiro a 27 de dezembro de 2024, conforme dados do Banco Central.
Essa já é a terceira maior saída líquida anual de dólares da série histórica do BC, iniciada em 2008. Segundo a instituição, o resultado é fruto da saída de US$ 84,396 bilhões na conta financeira e da entrada de US$ 68,478 bilhões na conta comercial.
Cenário fiscal continua pesando
No fim de 2024, o Congresso concluiu a tramitação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal.
A ideia inicial era economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, no entanto, as mudanças feitas pelo Congresso devem ter um impacto de R$ 2,1 bilhões, reduzindo a economia para R$ 69,8 bilhões.
Em café da manhã com jornalistas, no último dia 20, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta final feita pelo governo.
"Fala-se em 'desidratação', mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver 'hidratação' [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo", afirmou Haddad.
O mercado, porém, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.
"Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos", diz um relatório da empresa.
O governo precisa reduzir os gastos para atingir a meta de zerar o déficit público. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.
Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico reforçaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.
Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.
Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.